Dodge Journey 2.0 CRD – American way of MPV

IMG_0880Este Dodge respira o “american way of life” mas pisca o olho aos europeus com muito espaço interior, um equipamento interessante e sete lugares que dão sempre muito jeito. Pena que os vícios americanos, como o consumo elevado e a menor qualidade de alguns plásticos também se tenham reunido.

O Journey é uma mistura de conceitos, pelo que o nomeamos um “crossover”. Olhando despretensiosamente, é uma carrinha com ares de SUV e habitabilidade de monovolume e uma frente que mais faz lembrar os “trucks” ou pick-ups norte-americanas. Bonito ou feio, cada um dirá, mas que a sua imponência e aquela frente não deixam de impressionar, lá isso é verdade.

O seu tamanho – é do mesmo gabarito de um Audi A6! – impõe algum respeito e obriga a redobrados cuidados nas manobras em parques de estacionamento subterrâneos e nas garagens, pois a frente dificilmente é visível do lugar do condutor e atrás, os extremos ficam muito para lá daquilo que pensamos. Nesta altura está a chamar-nos burros, pois o carro terá sensores de estacionamento. Pois é, mas isso é coisa que nem mesmo como opcional a Dodge propõe para o Journey, pelo que não se admire se começar a ver os cantos dos pára-choques roçados e sem tinta… Então nos estacionamentos com acesso mais apertado, vai ver o festival de toques!

Qualidade abaixo do esperado

Esta unidade tinha o equipamento mais rico, o R/T e se não há sensores de estacionamento, timos direito às rodas maiores e a algumas mordomias no interior. Mas terminando de falar do exterior, referência para uma qualidade de montagem não muito boa, visível nos pára-choques e em algumas zonas da carroçaria com folgas pronunciadas. E nos pisos mais degradados, os ruídos parasitas vindos da estrutura são bem audíveis.

Olhando lá para dentro, voltamos a imaginar-nos nas planícies do Texas cruzando uma qualquer língua de asfalto. O espaço é enorme e ficamos sentados em verdadeiros sofás, com um massivo painel de instrumentos que possui botões para tudo e mais alguma coisa… Não fosse a alavanca da caixa de velocidades manual e a imaginação iria até aos barrigudos americanos com o braço de fora e uma mão no volante, a bebericar Coca Cola Light (sim, que hambúrgueres cheio de gorduras às dúzias, mas a Coca Cola deve ser dietética senão faz mal…) e a ouvir música “country”.

Voltando à terra, temos de dizer que a qualidade dos materiais não é a melhor, com plásticos duros que se queixam muito quando o piso é mais irregular. O estilo não é particularmente cativante, mas a verdade é que tudo está à mão e o sistema de som é uma verdadeira delícia em termos de qualidade.

Como já referimos, vamos muito bem sentados em verdadeiras poltronas e o volante está razoavelmente bem situado para permitir uma condução agradável e o perfeito domínio do Journey. Pena que o pedal de embraiagem vá tão fundo, obrigando a alguma ginástica. Coisas que acontecem a carros pensados para ter caixa automática…

Se o espaço à frente é muito, atrás a situação é exactamente a mesma. Isto porque a segunda fila de bancos tem três lugares individuais e a terceira fila, dois assentos separados que se rebatem facilmente. Ai ainda não se tinha apercebido que o Journey tem sete lugares?! Pois é verdade, são sete lugares com algum espaço para os dois últimos colocados na bagageira, muita versatilidade conferida pelas múltiplas regulações dos bancos da fila do meio (deslocam-se em calhas, rebatem, dobram-se, etc.) e espaço, muito espaço. E para que ninguém refile das escolhas do condutor, a Dodge colocou no Journey um compressor extra no ar condicionado para que quem segue nas duas filas atrás do condutor possa escolher a temperatura que mais lhe convém. E até os comandos áudio estão duplicados…

Outra coisa onde não há queixas é nos espaços de arrumação: há muitos locais onde arrumar garrafas, CD’s, livros, mapas e demais tralha e para que ninguém se queixe, há ainda alçapões no piso à frente da segunda fila de bancos.

Pelo contrário, a bagageira fica sem espaço quando utilizamos os sete lugares, resumindo-se a meros 33 litros que são tapados por uma espécie de chapeleira que se agarra às laterais do Journey através de elásticos. Ou seja, não tapa nada!

Quando rebatemos os dois bancos colocados na bagageira, então passamos a usufruir de uma verdadeira caverna com 783 litros que se pode estender a massivos 1615 litros. Mas não se entusiasme muito, pois se quiser deixar algo lá dentro fica tudo à mostra de olhares indiscretos. É pena.

Motor alemão

Para europeu ver, a Dodge guardou os motores mais espalhafatosos a gasolina para o mercado americano e pediu emprestado à VW o motor 2.0 litros injector-bomba acoplado à caixa de seis velocidades, que debita 140 CV. Olhando ao peso que o Journey acusa na báscula, 1,9 toneladas, a potência não parece ser muita apesar do binário de 310 Nm e da tradicional disponibilidade do bloco alemão.

Na prática, essa vivacidade (que como também é tradicional, acaba rapidamente) não é tão evidente e é fácil colocar o propulsor em apuros: encha o Journey com sete pessoas, carregue o tejadilho com mais uns 50 quilogramas e faça a subida de Fátima na auto-estrada do Norte. Até porque em termos aerodinâmicos o Dodge não é brilhante. Numa utilização mais familiar, ou seja, cinco passageiros e respectiva bagagem, o Journey até cumpre a sua função e o motor VW ajuda nessa tarefa, mas as prestações não saem da mediania.

É evidente que se espera vivacidade como num Golf ou num A3, esqueça. Porém, a dinâmica não é muito prejudicada naquelas condições. Mais prejudicial é mesmo a suspensão afinada à americana, ou seja, suavezinha para que todos possam adormecer. O que é óptimo para estradas tipo mesa de bilhar, menos bom quando começam a surgir os primeiros buracos e péssimo quando o piso é mau. E como piso mau por cá é coisa que não falta…

Ou seja, o Journey é um carro que não serve para quem tem ambições de ter um familiar desportivo, pois curvar depressa é coisa que não é possível de fazer com este Dodge, ainda por cima equipado com pneus que não inspiram muita confiança.

A travagem está em bom nível e a direcção é tipicamente americana, ou seja, muito assistida, filtrada e com alguma folga no ponto intermédio. Obviamente que perante uma suspensão tão suave, o conforto está num bom nível.

Os problemas colocam-se quando olhamos para os custos. O Journey gasta um bocadinho – falamos de médias a rondar os 10 litros quando rodamos com lotação esgotada, menos que isso quando a carga é menor – paga classe 2 nas portagens e na altura de comprar custa, na versão ensaiada, 33 mil euros. Valor que pode ser considerado razoável, mas olhando á concorrência e a sua valia, é capaz de criar alguma indecisão. Mesmo entre aqueles seduzidos pelo “american way of live” do Dodge Journey.

Características técnicas

Motor 4 cil. 16V; 1968 c.c.; tubo, injector-bomba

Potência (CV/rpm) 140/4000

Binário (Nm/rpm) 310/1750-2500

Transmissão Dianteira, caixa manual 6 vel.

Suspensão (fr./tr.) Independente, McPherson/Multibraços

Travões (fr./tr.) Discos vent.

Comp./Larg./Alt. (mm) 4880/1830/1,670

Dist. entre eixos (mm) 2890

Capacidade da mala (lt) 155/783/1615

Peso (kg) 1895

Velocidade Máxima (km/h) 188

Acel. 0-100 km/h (s) 11,6

Consumo médio (l/100 km) 6,5

Emissões CO2 (gr/km) 171 (Categoria D)

Preço versão base 33.000 Euros

Preço versão ensaiada 33.000 Euros